<<Mas quando a submissa se despe perante um homem vestido, quando declara “faz de mim o que quiseres, que é nesse ser tua onde obtenho prazer”, inventa um mundo novo. O mundo dos militantes que põem toda a sua energia ao serviço duma causa. O mundo das gentes que, sem receberem benefícios nem remuneração por tamanho zelo, se entregam. Oferecem o melhor de si próprias: dão-se. Quando a submissa se entregar assim, começa a dinamitar de dentro a noção de poder − Amor devora o poder −. Ou, talvez, começa a ditar as normas. Faças o que fizeres, estou por cima. Não é que procure a dor: procuro-te com o que tenhas para mim. Tenho-te porque já não posso temer-te, lobo. E a submissa aranha torna-se loba. Ou lobo, o animal inquietante, o que olha dentro de nós: o que nos aguarda.
Do Livro da aranha. Performance titulada “Política e erótica vão de mãos dadas”.>>