Esse incómodo feminismo

O feminismo hoje continua a ser um movimento estigmatizado. Após décadas de ativismo nas ruas que imprimiram mudanças radicais nas existências das mulheres −e dos homens−, após séculos de elaborações teóricas cada vez mais sofisticadas, e por muito que nos beneficiemos coletivamente das suas achegas nas nossas vidas, a feminista é tipificada como uma mulher terrivelmente insatisfeita, mal humorada e suscetível: nem aceita a naturalidade nem dá trégua nas suas análises. Para apreciá-lo em toda a sua profundidade cumpre, portanto, achegar-se às críticas internas que muitas feministas fizeram dum movimento acusado de burguês, branco e acomodado; críticas que serviram para aumentar o seu campo de ação e influência. Mulheres de todas as latitudes, de todas as etnias, de todas as classes sociais percebem semelhanças entre as práticas de domínio implícitas no patriarcado e as que praticamos sobre a natureza, determinando que feminismo não signifique apenas uma luta pelos direitos das mulheres, mas uma luta por devir mulher, por pôr-se na pele de quem sofre qualquer tipo de discriminação. Aliás, os feminismos das últimas décadas questionam não só a educação e os papéis tradicionalmente atribuídos ao sexo, mas o sexo mesmo, tornando num pensamento libertador, que supera os corpos e as anatomias e procura libertar a pessoa. Os usos linguísticos dissidentes −como a arroba−, as práticas políticas subversivas −como a irrupção nos parlamentos dessas mulheres nuas que se chamam femem− e as desafiantes produções artísticas das últimas décadas são revistadas em cinco capítulos. Quando muitas vozes se contentam com assinalar que o corpo feminino é usado como reclamo publicitário, vale a pena lembrar que o feminismo não é puritano nem tenciona censurar e que muitas artistas despiram os seus corpos para que os pudéssemos recuperar como arma de combate. Porque quando Chapeuzinho deixa de temer o lobo feroz, é que está em disposição de construir um mundo novo.

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Índice de artigos no livro:

ESSE INCÓMODO FEMINISMO

1. Eco-feminismo para o decrecentismo que vém

1.1. A conexão entre feminismo e ecologia
1.2. Um movimento anti-hierárquico
1.3. A crítica da tradição de pensamento ocidental
1.4. Que vida vale a pena de ser vivida?: As necessidades imateriais que o capitalismo não pode controlar
1.5. Uma moral feminina?

2. Vermello, laranja, amarelo, verde, azul e lilás

3. Esse corpo: práticas discursivas para deconstruírmos o género

3.1. Do íntimo e do público
3.2. Retratar-nos nuas: a força do corpo
3.3. O corpo do desejo
3.4. Desejar outro corpo para si
3.5. A arroba como contra-poder

4. Sobre cápsulas, géneros e falsas classificações: que se passa com a linguagem inclusiva?

4.1. Contra “bom dia a todos e a todas”
4.2. A perigosa teoria queer
4.3. O que a história nos confiou
4.4. Por que é que não conseguimos feminizar o discurso?
4.5. É possível mudarmos a linguagem e não transformarmos o mundo?
4.6. É possível transformarmos o mundo sem mudarmos a linguagem?
4.7. Debatendo entre nós (outr@s)

5. Violar o lobo feroz: sobre feministas que não cumprem

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